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Agricultura

Estudo concluiu que elevado uso de fertilizantes reduz significativamente o número de polinizadores

Estudo concluiu que elevado uso de fertilizantes reduz significativamente o número de polinizadores iStock

A utilização de níveis elevados de fertilizantes reduz para metade o número de polinizadores e “drasticamente” o número de flores, concluiu um estudo da Universidade de Sussex e da Rothamsted Research.

A investigação avançou que o aumento da quantidade de nitrogénio, potássio e fósforo aplicado nos terrenos agrícolas reduziu cinco vezes o número de flores e metade o número de insetos polinizadores.

 

As abelhas foram as mais afetadas, tendo a análise verificado que existiam cerca de nove vezes mais abelhas nas frações de terreno sem produtos químicos do que nas parcelas com os altos níveis de fertilizantes, de acordo com o estudo, publicado na revista npj Biodiversity.

Para o investigador principal, Nicholas Balfour, da Universidade de Sussex, “à medida que se aumenta o uso de fertilizantes, o número de polinizadores diminui – esta é a ligação direta que, tanto quanto sabemos, nunca foi demonstrada antes”.

 

E alerta: “esta realidade está a ter um efeito drástico nas flores e nos insetos, estando já a sentir-se um efeito de arrasto ao longo da cadeia alimentar”.

Os cientistas explicam que os fertilizantes criam condições que permitem que as plantas de crescimento rápido dominem os terrenos, afastando outras plantas e flores essenciais à biodiversidade do campo. Isto é prejudicial aos polinizadores, pois uma maior diversidade de flores conduz a uma maior diversidade de polinizadores.

 

A utilização média de fertilizantes em terrenos do Reino Unido é de cerca de 100 kg por cada hectare, com a quantidade mais elevada na experiência a fixar-se nos 144 kg por hectare, tendo sido neste contexto que se associaram os maiores declínios de polinizadores (de 50% ou mais), enfatizam os investigadores.

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No entanto, mesmo os terrenos que receberam a quantidade média de fertilizantes registaram menos 42% de polinizadores e cinco vezes menos flores do que os terrenos que não receberam fertilizantes. Os resultados foram mais pronunciados nas parcelas de terreno onde se aplicou fertilizantes à base de nitrogénio, o tipo mais utilizado.

 

Segundo o estudo, apenas 1% a 2% dos terrenos do Reino Unido são habitats de elevada qualidade e diversificados em espécies. A nível nacional, o Reino Unido perdeu 97% dos campos de flores silvestres desde a década de 1930, e os estudos revelaram um declínio generalizado do número de insetos polinizadores.

“Tendo em conta o atual foco na utilização de fertilizantes e o declínio substancial do número de polinizadores nos últimos anos, este estudo não poderia ter surgido em melhor altura, uma vez que procuramos compreender a melhor maneira de os proprietários rurais ajudarem as abelhas e outros polinizadores através de áreas de pastagem abertas”, referiu Francis Ratnieks, professor de Entomologia na Universidade de Sussex.

Os cientistas sublinham também que este estudo demonstra o problema que os agricultores enfrentam: para obter mais espécies de plantas com flores e polinizadores, a terra tem de ser menos fértil, o que reduz os seus rendimentos. É neste sentido que os investigadores salientam a necessidade da criação de incentivos financeiros por parte do Reino Unido e também da própria União Europeia (UE) para apoiar práticas agrícolas favoráveis à biodiversidade.

“Embora a redução dos rendimentos dos agricultores não seja uma coisa boa, a diminuição da intensidade da produção tem o potencial de concretizar muitos dos benefícios de uma paisagem multifuncional, que incluem mais polinizadores, melhoria da saúde dos solos e da qualidade do ar, assim como uma maior resistência a fenómenos meteorológicos extremos”, enfatizou Nicholas Balfour.