Há cerca de uma década o setor agrícola tinha os radares apontados para o potencial da produção de culturas para biocombustíveis, como o biodiesel e o bioetanol. No meio de mudanças estratégicas sobre as diferentes fontes de energia renovável e de crises energéticas, onde até se ponderou usar excedentes de vinho para fazer biocombustível, o paradigma parece ter mudado consideravelmente.
Atualmente, os biocombustíveis avançados começam a ganhar terreno e o biometano parece vir juntar a oportunidade da geração de energia com a valorização de resíduos de várias fontes, desde a pecuária à agroindústria. Ou seja, transformar resíduos em subprodutos e valorizá-los, resolvendo o problema do encaminhamento e tratamento dessas matérias-primas numa lógica de economia circular.
Começam a surgir vários investimentos nesta área que estão a suscitar o interesse dos produtores agrícolas e pecuários que podem beneficiar desta nova dinâmica. Numa leitura muito simples, o tratamento dos subprodutos para extração da energia (que vão desde bagaços de azeitona a chorumes de explorações pecuárias) cria um novo subproduto, o chamado “digerido”, que pode ser utilizado como fertilizante. Isto pode significar que centenas de agricultores podem vir a ser beneficiados com “adubo” para as suas culturas, mesmo que não sejam produtores de resíduos, por via dos excedentes deste digerido.
É claro que ainda há muito para saber e testar sobre as propriedades deste digerido e as reais vantagens da sua aplicação, mas o que sabemos à data parece ser promissor. Esta lógica de circularidade é absolutamente necessária e está a mudar completamente a forma como podemos tornar as atividades mais sustentáveis e, sobretudo, rentáveis. Aquilo que parecia ser um problema ambiental em algumas explorações pode começar a tornar-se um produto valioso. Cabe agora aos agentes do setor saber encontrar as sinergias necessárias para não deixar arrefecer esta dinâmica e tornar a relação win-win.
“Aquilo que parecia ser um problema ambiental em algumas explorações pode começar a tornar-se um produto valioso.”
Olhar para a produção de biocombustíveis avançados é a derradeira oportunidade de acabar com a competição entre a produção de culturas para alimentação versus produção de energia. Porque será necessário um mix energético para fazer a transição e o biometano tem um lugar importante nesta equação, ao entrar em setores onde o fotovoltaico não é opção. E os agronegócios têm de conseguir agarrar a oportunidade e conquistar uma posição de relevo.
#agricultarcomorgulho