Na véspera de (mais) umas eleições legislativas, o país agrícola volta a respirar fundo. Este exercício respiratório, quase profilático, tem sido uma constante nos últimos anos e traz consigo uma enorme instabilidade e inconstância nas políticas. Indecisões, revisões, atrasos, adiamentos, cancelamentos. Cada novo Governo quer imprimir a sua marca, a sua estratégia, a sua política, o seu nome. Legítimo, mas desastroso para os planos estratégicos em curso.
Esta introdução serve para voltar ao tema da necessidade de, em setores como o agronegócio, chegarmos àquilo que modernamente se chama de “entendimentos alargados”. Ou, para uma pessoa vintage, como eu, os vulgos acordos de regime.
O setor “agro”, como tantos outros, precisa de uma visão a longo prazo daquilo que são linhas, planos e investimentos estruturantes, que preparem o futuro, que permitam previsibilidade aos empresários agrícolas, que garantam estabilidade. Isso não é possível com as frenéticas mudanças de cadeira e do constante “baralhar e dar de novo”. E se essa mudança faz parte da vida política e das saudáveis sociedades democráticas, já a vertigem de tudo mudar, em nome de protagonismos, não é nem louvável, nem abonatório ao desenvolvimento e crescimento.
“Precisamos de um pacto de regime […] que garanta que os principais partidos do arco da governação se entendem em matérias estratégicas, de que a agricultura faz parte. Que garanta a continuidade de investimentos planeados, e em curso, decisivos para o crescimento, modernização e até sobrevivência do setor (como é o caso, por exemplo, da gestão dos recursos hídricos).”
Sim, precisamos de um pacto de regime, não se tenha medo do nome, que garanta que os principais partidos do arco da governação se entendem em matérias estratégicas, de que a agricultura faz parte. Que garanta a continuidade de investimentos planeados, e em curso, decisivos para o crescimento, modernização e até sobrevivência do setor (como é o caso, por exemplo, da gestão dos recursos hídricos). Que dê uma visão clara do que se quer a 30 anos, pelo menos, com metas claras e timings definidos nos setores-chave. Que continue a estimular o ecossistema na transição agroecológica, apoiada em sistemas regenerativos, mas produtivos, competitivos e rentáveis. Com modelos resilientes, modernos e sustentáveis. Isso não se faz aos ziguezagues, nem com medidas avulsas. Faz-se com planos sérios, onde tem de haver compromisso, seriedade, inteligência e, sobretudo, maturidade. Porque, muitas vezes, quem nos governa, como na cantiga de Carlos do Carmo, parecem “bandos de pardais à solta… os putos… os putos…”.

#agricultarcomorgulho